O LADO OCULTO DO NATAL
- Guilherme Souza
- há 21 minutos
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Quando falamos em símbolo do Natal, qual figura vem à sua mente? Papai Noel? Grinch? Estas figuras são bem populares nessa época do ano, mas você já ouviu falar no Krampus?
Tendo sua origem nas crenças Alpes pré-cristãs, o Krampus é uma divindade pagã, muitas vezes comparado com o deus Pã da mitologia grega e o deus Cernunnos da cultura celta, sendo ambos deuses da floresta e que simbolizam punição. Seu nome deriva do alemão Krampen (garra) e sua aparência é a de uma criatura humanoide, metade bode e metade demônio, com o corpo muito peludo e uma longa língua vermelha. Originalmente, ele era uma figura associada ao solstício de inverno, contrapondo-se ao calor, trazendo o ar mais sombrio e selvagem da natureza.
Com o surgimento do cristianismo, a figura do Krampus acabou por ser vilanizada pela igreja e incorporado como o companheiro diabólico de São Nicolau, sendo ambos o oposto um do outro, onde São Nicolau presenteava aqueles que foram bons, enquanto Krampus punia as crianças malcomportadas, agora sendo retratado carregando correntes e um cesto para levar as crianças más para o inferno.

Vocês já ouviram falar de Krampusnacht? Conhecida como “noite de Krampus”, é celebrada no dia 5 de dezembro que antecede o dia de São Nicolau, que ocorre no dia 6 de dezembro. Hoje em dia, com a popularização da figura do Krampus, também há a popularização do “Krampuslauf”, onde as pessoas se vestem como a criatura e aterrorizam as ruas.
Essa tradição também existe aqui no Brasil, sendo mais específico, na cidade de Treze Tílias em Santa Catarina, porém é conhecida como Nikolaufest: São Nicolau chega com seus ajudantes, os Krampus, no início de dezembro, para assustar e punir aqueles que foram maus e presentear os que foram bons. Essa tradição chegou ao Brasil com os imigrantes austríacos e se mantém preservada pelos seus descendentes até hoje.

Já no vale do Itajaí, também em Santa Catarina, o Pelznickel aparece vestido em uma roupa velha e sacos de juta, possui cabelos de palha e carrega um saco nas costas, assim como o Papai Noel, no qual carrega instrumentos para assustar as crianças más. Já as muito más, ele ameaça levar embora dentro do saco. Similar com a lenda do homem do saco, vocês não acham?
O Medo e a recompensa usados como forma de educação
É interessante perceber o caráter de controle comportamental que se traduz na figura de Krampus. A obediência é recompensada com presentes, mas o contrário desperta a necessidade de punição. Sendo uma narrativa contada para crianças, estabelece um senso de medo que conduz as boas ações apenas para evitar consequências, e não meramente por bondade natural.
Nos últimos meses de 2025, Santa Catarina apresentou aspectos peculiares de controle social, como por exemplo, o controle migratório na cidade de Florianópolis, com o objetivo de afastar pessoas "sem emprego" de se fixarem na região. Considerando essas posturas de organização, é intrigante como a interpretação de mundo pode ter semelhanças com as representações simbólicas de personagens culturais, como o Krampus.
Talvez, se os Krampuses brasileiros visitassem os Krampuses estrangeiros, a provável interação entre os dois grupos seria bastante conflituosa.
Mas, quem somos nós para julgar, não é mesmo? Vamos focar na representação ficcional do personagem.
Com a lenda ganhando popularidade, já era esperado que fossem criados filmes sobre o Krampus e, sendo de domínio público, houve diversas produções de diferentes produtoras e diretores, com nenhuma delas tendo conexão entre si. A seguir, falarei de uma delas.
KRAMPUS: O TERROR DO NATAL

O filme foi dirigido pelo norte-americano Michael Dougherty, o mesmo que produziu Godzilla II: O rei dos monstros, de 2019. A narrativa é carregada de suspense e tem uma sensação de perigo envolvente ao misturar a atmosfera natalina e o terror mágico da figura de Krampus. É uma boa opção de filme para entrar no ritmo das festas de Natal, com uma opção diferente da costumeira missão de salvar o Natal.
A partir daqui você encontrará spoilers…

No longa nos é apresentado Max e sua família, 3 dias antes do Natal, se preparando para a festividade, porém, assim como toda família, eles acabam tendo suas brigas. Enquanto isso, Max, que ainda tem o espírito natalino, continua a escrever sua cartinha para o Papai Noel, com a ideia de continuar com as tradições natalinas. Com o clima tenso entre sua família, Max acaba por perder o espírito do Natal e rasga a sua carta para o Papai Noel e a joga pela janela. Essa ação acaba desencadeando uma forte tempestade de neve que corta o fornecimento de energia da cidade.
Após isso, Krampus começa a ir atrás daqueles que menosprezaram o espírito do Natal, um por um. Em meio ao desespero, Omi, a avó da família, explica o que está acontecendo e quem é a criatura que os persegue se referindo a ela como “Sombra de São Nicolau” e diz que já havia o visto antes. Em meio ao caos, Omi fica para trás com a intenção de parar o Krampus, para que sua família possa fugir, porém o plano acaba dando errado e fica apenas Max, que o confronta e tenta argumentar pedindo que traga sua família de volta e o leve no lugar deles. Aparentemente, Krampus considera seu pedido e então o ergue sobre o poço do submundo. Max pede desculpas por perder o espírito do Natal, mas a criatura o solta mesmo assim.
Max acorda de repente e percebe que, aparentemente, tudo aquilo havia sido um sonho. Assim que ele desce as escadas, encontra sua família reunida que, por um breve momento começa a lembrar do ocorrido. A câmera se afasta e revela que a família está presa em um globo de neve, em uma prateleira na oficina de Krampus, junto a muitos outros que foram maus no Natal.
Fontes de pesquisa:
Fatos Desconhecidos
M de Mithology
National Geographic
Pelznickel: O Papai Noel do Mato
Autoria: Guilherme Souza - @_cebola.arts
Edição: Mandy Modesto - @mandy_modesto_
Correção Textual: Amanda Murta - @amandamurta_

