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Kevin can f*** himself

Chega de ver mulheres incríveis sobrecarregadas por causa de homens idiotas


Nesse último domingo terminei de assistir a série “Kevin can f*** himself”, ou “Que se f*** o Kevin”(tradução livre), terminei de ver a série do lado do meu namorado, que foi quem me recomendou, depois de ver o trailer da primeira temporada a gente decidiu colocar na lista pra assistir e passou na frente de algumas outras séries que a gente tava vendo, mas valeu a pena, e muito.


Imagem da Série Kevin Can F*** Himself
Imagem da Série Kevin Can F*** Himself

A série foi criada e produzida por Valerie Armstrong e explora o gênero de drama e comédia, explorando jogos de câmeras mais complexos misturados as câmeras típicas de Sitcom, retratando a vida de Allison McRoberts, uma esposa comum que trabalha e cuida sozinha da casa enquanto o marido dela, Kevin, faz tudo que ele quer. A série foi lançada em 2021- 2022, é dividida em duas temporadas de 16 episódios, variando de 42 a 46 minutos por episódio, e o fato de ser curtinha e já estar finalizada também contribuiu para eu dar uma chance pra série e também recomendar ela.


Desde criança, e bem antes disso, a gente vê mulheres incríveis - e realmente boas no que fazem, com força de vontade e sonhos a serem realizados - serem sabotadas por causa de um parceiro ruim, tem até uma trope chamada basicamente de “Cara feio, mulher gostosa”(os filmes do Adam Sandler estão aí pra quem quiser comprovar), também é o caso da Allison e do Kevin. O problema não é o casamento/casal em si, mas a pessoa com quem você se casa, e esse é o caso da Allison, a protagonista da série.


Allison é desastrada e bem insegura, ela trabalha na loja de bebidas junto com a tia dela e é casada com Kevin, um marido que incorpora praticamente todos os estereótipos do marido engraçadão de Sitcoms, que faz piada de odiar o casamento e a esposa, quando na verdade é ele quem sobrecarrega a esposa e essa série aborda um lado mais realista disso, do ponto de vista da esposa.


“Não tente ser engraçada, querida!” É o tipo de piada que ele faz às custas da esposa.


O casal vive em Worcester, e ao contrário de muitas sitcoms que eu já vi, eles são um casal da classe trabalhadora e vivem em uma casa alugada, mostrando a Allison repetindo a mesma roupa várias vezes durante a série (abaixo tem um link para um artigo que fala mais sobre isso), eles não estão nadando em dinheiro, mas tinham algumas economias guardadas durante os 10 anos de casamento para comprar uma casa própria, pelo menos era isso que Allison achava. Ela sonhava em poder se mudar para outra vizinhança, mais tranquila e longe dos amigos do Kevin, mas no primeiro episódio, Patty, amiga e vizinha de Kevin, avisa Allison que eles não têm dinheiro nenhum, Kevin gastou tudo comprando besteiras do tipo que, segundo ele mesmo, ele gastou “mais que o nosso casamento e menos que o nosso carro”, só para comprar uma camisa usada por uma celebridade, e essa nem chega a ser a coisa mais absurda que ele já comprou usando as economias do casal.


Ela deixava todas as economias nas mãos do Kevin porque ela achava que era péssima com dinheiro, mas adivinha quem plantou isso na cabeça dela?


Então, com os seus sonhos destruídos, ela surta e o sonho de viver uma vida feliz ao lado do marido dela, é trocado pelo sonho de matar o Kevin, ele merecia isso, eu não julguei ela, pelo contrário, passei tanto pano para personagem que até meu boy falou “nunca pensei que ia te ouvir dizendo ‘mas foi só uma tentativa de homicídio”. Mas era contra o Kevin, então eu perdoei muita coisa vinda de personagens que só queriam se livrar dele.


A Allison vai se revelando uma pessoa bem egoísta e até manipuladora durante a série na tentativa de conseguir matar o Kevin, ou pra fugir dele, ela é uma pessoa boa, mas o estresse, ansiedade e raiva, fazem ela cometer erros e ela comete muitos deles, assim como todo mundo comete, ela não é uma pessoa perfeita, mas nem de longe ela chega a ser que nem o marido.


Kevin é um imbecil que mal pode se cuidar sozinho, é machista, crianção, metido a engraçado, mas que só sabe fazer piada quando tem alguém como alvo (geralmente mulheres). Não ajuda a esposa em absolutamente nada, a não ser que ele ganhe algo em troca por isso, e na maior parte das vezes, tudo o que ele faz torna a vida dela mais difícil, se tivesse foto ilustrativa no dicionário para a palavra “narcisista” teria a foto dele, pois o mundo gira sim ao redor dele. 


Chega num ponto em que a simples presença dele causa estrago, até quando ele não está em cena, e é frustrante como TUDO dá um jeito de dar certo pra ele, até os policiais deixam ele impune. E aqui, eu dou meus parabéns ao ator, porque ele conseguiu entregar um personagem que tem uma cara tão sociável, entregando do jeito certo as piadinhas do Kevin, o timing perfeito, que parecia que eu já tinha ouvido todas aquelas piadas em outras Sitcoms com aquele mesmo tipo de entrega, e isso é um elogio a produção da série, vou já explicar.


A direção de filmagem dessa série tá de parabéns, pelo jogo de câmeras, áudio e iluminação que separam as tonalidades dos momentos em que Kevin está em cena, onde tudo é lindo, mais iluminado e colorido, uma visão unilateral dos cômodos e trilha sonora de risadas que acompanham as piadas e tiradas dos personagens, combinando com o jeito que Kevin é apresentado pra gente, alegre, engraçado e despreocupado; e contrasta com os momentos que Allison está sem ele por perto, onde tudo fica mais complexo, mais escuro, mal iluminado, sem cor, mais triste, e a câmera passa a mostrar outras perspectivas do mesmo lugar que a gente estava antes, só que agora, sem a presença do Kevin. 


Esse contraste do jogo de câmeras funciona perfeitamente e é usado também como ferramenta de Storytelling nessa história, e me fez vibrar e ficar assustada com o que aconteceu no final, vou ter que deixar uma sessão de spoiler abaixo, porque o final, apesar de parecer um pouco apressado, vale a pena.


A minha crítica ao enredo da série, é que a jornada da Allison e da Patty, fica repetitiva em alguns momento, Allison vai envolvendo mais pessoas na rede de mentiras e problemas dela, mas não chega a ser um problema tão grande já que a série é curta, também me deixou a impressão de que talvez fosse para ser uma série com uma única temporada, mas resolveram passar para duas.


Essa série me fez refletir sobre várias coisas, tem várias mulheres que estão em relacionamentos ruins e apesar de tudo, chega a ser um alívio quando alguma se livra de algum deles. Vou citar algumas das outras mulheres que aparecem durante a série a seguir:


Tammy, a policial, é uma mulher negra e lésbica, que também lida com um “Kevin” que é parceiro de trabalho dela.


Diane tem um marido folgado, abusivo e que trai ela, e em alguns momentos dá pra perceber que ele é violento, embora não seja assim com a Diane (pelo menos no que a série mostrou). Além de ser a dona da loja de bebidas e já estar acostumada com vários clientes, principalmente homens, tratarem ela mal, um deles até comentou que ama a cerveja da marca X, mas que se a cerveja Y estivesse de graça, ele também ia provar e que ela não precisaria ficar chateada… ela ouviu isso de um cliente homem, após ter se espalhado pela cidade que ela foi traída.


Patty também já tava bem enrolada nos próprios problemas mesmo antes da Allison aparecer, ela já tinha que sustentar o irmão Neil, melhor amigo do Kevin, enquanto dava um jeito pra pagar a hipoteca da casa, ela fazia parte do estereótipo de “ela é um dos caras”, é legal e bebe cerveja, mas como ela não é padrão, não é respeitada por eles (e se ela fosse uma bonita padrão, provavelmente seria vista como objeto de desejo por eles, como acontece em outras séries). Patty já sabia quem era o Kevin e como ele agia bem antes dele começar a namorar a Allison, num episódio de Flashback da segunda temporada, eu fiquei com a sensação que a Patty poderia ter avisado pra Allison sobre o buraco que ela estava se enfiando… e vendo tudo o que elas passaram até aquele momento, isso doeu.


O final deixa várias coisas em aberto, não é o final “todo mundo aprende a lição e vivem felizes para sempre”, mas é o tipo de final que pode dar esperança das coisas mudarem, nem tudo vai se resolver num passe de mágica, ainda vai ser difícil daqui pra frente, mas pelo menos ela tem uma rede de apoio, acho que o final deixa um gosto agridoce na boca.


Essa série me atentou sobre o que pode estar por trás de “piadas” que envolvam:

  • Desmerecer seu trabalho, amigos, família, hobbies, relacionamentos diversos e etc;

  • Te diminuir como pessoa;

  • Que te façam duvidar de si mesma e das suas capacidades;

  • Dizer que “você não tá tão acabada pra sua idade” como elogio;

  • Fazer pouco caso dos seus sonhos;

  • Diminuir suas conquistas, pois não são tão importantes quanto as dele;

  • Criticar suas roupas quando você fica “confiante demais” usando elas;

  • Que tire a alegria até de um pequeno momento em que você se sentiu bonita ou especial;


Por mais que sejam em tom de “piada”, se é algo que te faz sentir mal e que você não gosta, fala para pessoa e peça pra ela parar. Se ela não parar, ela não te respeita e onde não tem respeito, não tem como manter um relacionamento saudável.


Acho que a lição que eu tirei pra mim dessa série é que: se um dia eu souber que algum cara é um “Kevin” e por mais inofensivo que ele pareça, pelo menos vou tentar avisar a vítima.



Trailer da série


Artigo que fala sobre a vestimenta da série.


Análise do filme Separados pelo casamento pela Fitória.


UM QUASE SPOILER PRA QUEM FICOU ATÉ FINAL


Vou tentar não estragar esse momento para vocês, mas para quem for assistir a série, fica de olho nas mudanças de câmera de Sitcom para camêra dramática, na parte final das duas temporadas tem essas mudanças reveladoras pros personagens. Especialmente na segunda temporada, chega em momentos que tem tanto drama e tanta cagada acontecendo, que eu ficava até um pouco mais aliviada vendo o Kevin no cenário de Sitcom, quando ele é trazido para realidade, primeiro eu vibrei, tava com sentimento de “finalmente esse cara vai sair do mundinho tranquilo dele”, mas trazer uma pessoa que nem o Kevin pro mundo real, mesmo que num espaço de tempo tão curto, foi assustador. Foi o golpe definitivo de realidade que eu precisava pra ficar alerta com esse tipo de pessoa na vida real.


1 comentario


Murtaamanda
01 jul

Okay, a resenha me deixou assustada e curiosa ao mesmo tempo. Fui convencida.

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