Dia de celebrar narrativas pretas
- Rafael Gonzaga

- 20 de nov.
- 3 min de leitura
15 autorias pretas e a importância do quadrinho ZAGAIA
Podíamos trazer todo um apanhado histórico que fomentasse a importância de um dia como esse, rememorando cada grande heroi e heroína da história de resistência dos povos africanos ao longo dos anos. Seria lindo e potente, mas talvez, só talvez, também valesse a pena lembrar de quem está cotidianamente lutando para educar, para reafirmar e fixar a importância sociocultural dos povos africanos em todo o mundo.
Particularmente, aprendi muito sobre essa importância e impacto com pessoas mais antigas: pais e mães, professores e professoras, avôs e avós que sempre buscaram ter um cuidado ímpar ao tentar dissipar quaisquer visões estereotipadas sobre cor de pele, sobre traços físicos tão únicos e belos.
A verdade é que essas pessoas que estão ali explicando a beleza e carga histórico/cultural de uma trança, enquanto ensinam a amar a si, em cada nuance e em cada traço, com um afeto e cuidado que tenta diluir tantos silenciamentos e agressões, buscam com esse afeto aliviar as dores de feridas históricas que, infelizmente, não podem ser esquecidas para que não se corra o risco de serem repetidas.
Dias como os de hoje são importantes pela seu impacto cultural, pela sua carga histórica. Descendemos de povos que sofreram apagamentos, silenciamentos, para além de genocídios e tantas outras barbáries. E dias como os de hoje devem ser lembrados, cotidianamente. A história dos povos de origem africana é marcada por violências sofridas sim, mas também não é a única memória que precisamos resgatar, também há uma grande narrativa de resiliência, resistência e persistência.
Um povo sem memória, é um povo sem identidade, e se uma coisa que aqueles que descendem de povos de origem africana possue, é uma carga identitária viva e potente, que existe e resiste com todo o dreito de ter muito orgulho de si.
Criamos uma lista com 15 artistas e roteiristas do quadrinho paraense que celebram a expressividade da cultura negra nas histórias em quadrinhos na contemporaneidade, de forma direta ou indireta, enriquecendo o cenário de quadrinhos amazônicos com uma diversidade de temas protagonizados por autores/as pretos e pretas:
1. Helô Rodrigues - @heloilustra_
2. Kolwalsk - @kolwalsk
3. Luiz Felipe - @luizfelipe_ftd
4. Rodrigo Leão - @rmsleao
5. Alan Furtado - @o_afrontos0
6. Marina Pantoja - @mahlice.paper
7. Elton Galdino - @araacatu
8. Matheus Siqueira - @mthssqr
9. July Silva - @medeusa_
10. Milene de Souza - @endoi.da
11. Mandy Modesto - @mandy_modesto_
12. Bell Modesto - @apenasbell
13. Felipe Marques - @v0id419
14. Rafael Gonzaga - @rafaelgonzaga.arts
15. Elane Queiroz - @elanequeiroz
Além disso, não há como passar por esse dia sem celebrar e deixar como recomendação de quadrinho a nossa maior referência de pesquisa e produção artístico/literária: Zagaia - Coletânea de Quadrinhos Afroamazônicos (lançado em 2021). O projeto, conduzido por Elton Galdinho, foi um projeto selecionado pelo Edital de Artes Visuais - Lei Aldir Blanc Pará 2020 e contou com uma pesquisa quanti-quali com índices de quantos autores que se identificam como pretos e pretas, estão produzindo histórias em quadrinhos na Amazônia.

A iniciativa de quantificar esse grupo é também uma forma de afirmação de que existem pessoas negras fazendo quadrinhos na Amazônia. Além disso, a obra foi pensada para ter circulação de fins educativos, pois as páginas podem ser visualizadas em tamanho A3, facilitando a leitura e observação dos detalhes das histórias. O quadrinho foi distribuído em bibliotecas públicas, comunitárias e escolas.
É peculiar e curioso que o quadrinho não tenha recebido nenhum tipo de premiação, considerando a dimensão de sua proposta e importância histórica, mas isto não reduz a qualidade do projeto. A própria história traz o reconhecimento público e intelecual que Zagaia merece ter!
Com isso, celebramos nossos autores e abras pretas, pois o discurso, supostamente inocente de desconhecimento das coisas, não traduz mais a realidade, não diante de tantas oportunidades de conhecer pessoas e narrativas fortes de origem negra em nosso próprio tempo.
Texto: Rafael Gonzaga
Revisão: Mandy Modesto



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